Tecnologia e inclusão social

A tecnologia deve servir à humanidade e não ser mero instrumento do capitalismo

Como não poderia deixar de ser, nossa atual Constituição Federal tem um capítulo destinado à ciência e tecnologia que, não por acaso, está dentro do título da ordem social. Isso significa que, de acordo com nossa Lei maior, o desenvolvimento tecnológico deve atender ao bem-estar social e, portanto, ao bem comum, privilegiando sempre o cidadão.
De fato, diversas são as contribuições da tecnologia para a sociedade, tais como avanços nos estudos para prevenção e tratamento de doenças, utilização de máquinas para aumentar a rentabilidade do trabalho humano e da produção agrícola, novas possibilidades energéticas e disseminação da educação e do conhecimento. No entanto, apesar da Constituição enfatizar seu caráter social, a atual era individualista que vivemos restringe a tecnologia à lógica do mercado capitalista e, portanto, à economia, o que a afasta, cada vez mais, da prática e da vivência do bem comum. “Hoje em dia vemos, na maioria das situações, o uso com ênfase privatista da tecnologia, focada exclusivamente na questão de lucro, o que está gerando um aumento do fosso da desigualdade econômica e social”, explica o professor Luciano Sathler, pró-reitor de Educação a Distância da Universidade Metodista de São Paulo e presidente para a América Latina da Associação Mundial de Comunicação Cristã.

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Tecnologia como meio de inclusão diminui o fosso da desigualdade

O professor de pós-graduação Ciências da Religião da Metodista, Jung Mo Sung, critica o uso puramente mercantil da tecnologia. “Temos o surgimento de várias tecnologias que são ótimas em termos meramente técnicos. Em termos humanos elas são ruins, porque pervertem os valores da sociedade. O avanço tecnológico que só fomenta a idéia de consumo gera uma sociedade que se identifica com o mercado. O homem é visto primeiro como consumidor e depois como cidadão. O certo, em uma sociedade cidadã, seria você primeiro ser cidadão. Mesmo não sendo consumidor, você é cidadão”, considerou o professor.
Uma das conseqüências dessa realidade é a exclusão digital, faceta da exclusão social. Nem todos os membros da sociedade possuem habilidade e recursos financeiros para acompanhar os avanços tecnológicos, o que dificulta ainda mais a prática do bem comum. “A tecnologia deveria estar a serviço de todos, inclusive dos mais pobres, dos analfabetos e dos mais idosos. Se deixarmos alguém de fora desse progresso, não é progresso. É simplesmente avanço da técnica. Para isso, cabem ao Estado, aos governos, à sociedade civil e, especialmente, às grandes corporações e empresas transnacionais repensar a tecnologia a serviço do ser humano”, defende Sathler, caracterizando a importância de uma discussão política sobre o tipo de governo que queremos para que a tecnologia seja colocada, afinal, a serviço de todos e não só de uma minoria.
Ainda segundo o pró-reitor de Educação a Distância da Metodista, é preciso também instigar a população a participar de forma presente das definições dos rumos tecnológicos da sociedade, para que as grandes decisões deste campo não sejam tomadas exclusivamente pelas empresas, movidas pelo lucro.
A educação passa a ser uma ferramenta fundamental para a formação de pessoas mais conscientes, participativas e melhor capacitadas profissionalmente para inclusão no novo mercado de trabalho que se configura. “É papel da universidade ajudar os seus alunos a desenvolver uma consciência de responsabilidade social, uma postura ética ativa perante as injustiças presentes em nossa sociedade. Ao promover este debate, fortalecemos a consciência entre alunos e funcionários à nossa participação na melhoria da sociedade”, afirma o diretor da Faculdade de Tecnologia e Informação da Metodista, professor Davi Betts.
Se usada com sabedoria e ética, a tecnologia pode representar uma forte aliada na luta por um mundo mais cidadão, justo e, portanto, empreendedor do bem comum.

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